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Pesquisa conclui que a maioria dos casos de abusos não é denunciada
Radioagência Nacional - Por Daniella Longuinho*
Publicado em 07/10/2025 13:47
Geral
© Arquivo/Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

A realidade alarmante revelada pelos casos de estupro de meninas e mulheres no Brasil ganha contornos ainda mais graves com a constatação de que a maioria da população conhece alguma vítima de violência sexual e que, na maior parte dos casos, os abusos não são notificados. A constatação é do levantamento "Percepções sobre Direitos de Meninas e Mulheres Grávidas pós-Estupro", pesquisa de opinião realizada pelo Instituto Patrícia Galvão em parceria com o Instituto Locomotiva.

O estudo aponta que seis em cada 10 brasileiros conhecem alguma menina de até 13 anos que foi vítima de estupro. O índice sobe para 63% quando os casos envolvem meninas e mulheres de 14 anos ou mais. Também é de aproximadamente 60% o índice de meninas que foram estupradas antes dos 14 anos e não falaram sobre essa situação para ninguém. Somente 27% contaram para um familiar adulto serem vítimas de violência sexual.

De acordo com o levantamento, além de enfrentarem sozinhas o drama do estupro, a maioria das vítimas não procurou nem foi levada a algum serviço de atendimento de saúde após a violência. Marisa Sanematsu, diretora de conteúdo do Instituto Patrícia Galvão, ressalta que os casos de estupro precisam ser encarados como um problema de saúde pública:

"Nós temos que ficar muito preocupados, por quê? A gente está vendo que é um crime, mas, ao mesmo tempo, um problema de saúde pública, né, a gente sabe que as vítimas de estupro têm direito a uma série de medidas imediatas após a ocorrência do estupro para prevenir infecções, para prevenir a ocorrência de uma gravidez indesejada", afirma.

Além disso, Marisa reforça que não é necessário boletim de ocorrência para atendimento de saúde após o estupro e que as medidas para responsabilizar o abusador podem ser tomadas depois do acolhimento de saúde.

 Fazendo uma comparação com um assalto. Se uma pessoa leva um tiro, você, quando vai socorrê-la, você não leva ela primeiro para a polícia para registrar um B.O. Você leva para a saúde, para ter um atendimento imediato, porque essa pessoa, a prioridade naquele momento é a saúde física e mental dessa vítima.

Segundo o levantamento, apenas 15% das vítimas de estupro menores de 13 anos foram atendidas pela polícia. Nessa faixa etária, as que tiveram atendimento de saúde foram apenas 9%. Nesses casos, quando levadas a um médico, meninas e mulheres recebem atendimento imediato para tratar machucados e lesões, são medicadas para prevenir infecções sexualmente transmissíveis, recebem acompanhamento psicológico e tomam pílula do dia seguinte para evitar uma gravidez.

A pesquisa mostrou ainda que 22% da população conhecem uma vítima que engravidou após um estupro, e metade das meninas que engravidaram depois da violência sexual não interrompeu a gestação. Marisa Sanematsu, do Instituto Patrícia Galvão, ressalta que o aborto em caso de estupro é um direito garantido por lei no país, independentemente da idade gestacional, procedimento seguro realizado na rede pública de saúde.

"E quando essa gravidez está mais adiantada, o que nós sabemos é que prevalece o direito dessa menina de interromper a gravidez. Não importa se essa gestação está mais adiantada, existem maneiras seguras de interromper essa gravidez. O corpo de uma menina não está preparado para levar adiante uma gestação, né? Isso pode acabar trazendo problemas futuros para ela", diz.

A pesquisadora avalia que ainda existe um grande estigma que recai sobre as vítimas de estupro no país, quando, na verdade, a culpa é sempre do agressor.

"A vítima precisa é de acolhimento, não precisa de julgamentos, acusações. É muito importante isso. Nessa hora, é importante lembrar que uma vítima de estupro nunca é culpada pela violência que ela sofre. Não importa o que ela fez. A culpa é sempre de quem agride, de quem estupra, relata.

Divulgada na última semana, a pesquisa foi realizada de forma online com uma participação de 1.200 pessoas com mais de 16 anos de todas as regiões do país.

*Com produção de Salete Sobreira

Fonte: Radioagência Nacional
Esta notícia foi publicada respeitando as políticas de reprodução da Radioagência Nacional.
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